quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Ego meu, ego meu, haverá alguém maior do que eu?

Quando me perguntam que tipo de pessoa me destrona mais facilmente, rapidamente concluo que é o tipo de pessoa com um ego tão, mas tão grande que o universo inteiro se encolhe para caber lá dentro. Pessoas tão cheias de si, que acreditam que o sol nasce todos os dias porque elas existem. Se juntarmos a este ego enorme uma carência de qualquer espécie, temos aqui um pequeno ser humano a evitar a todo o custo. Normalmente tudo o que farão será porque elas precisam, porque elas querem, porque lhes aconteceu isto e mais um par de botas. Basicamente o resto do mundo deixa de ter qualquer importância. Afinal quem é o resto do mundo para se lhes poder ser comparado? Que problemas terá o resto do mundo que se possam equiparar aos deles? Muito poucos ou nenhuns. São estes egos mal comportados e gigantes que nos atravessam o dia e às vezes a vida. Tirá-los do caminho é o cabo dos trabalhos.

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Há sempre uma ferida de que não conseguimos regressar...


rain
http://data.whicdn.com/images/254567688/superthumb.jpg 
Entre a saliva e os sonhos há sempre
uma ferida de que não conseguimos
regressar
e uma noite a vida
começa a doer muito
e os espelhos donde as almas partiram
agarram-nos pelos ombros e murmuram
como são terríveis os olhos do amor
quando acordam vazios
Alice Vieira
Deveria existir dentro de cada um de nós uma despensa  emocional para onde enviávamos todas as nossas mágoas. Aqui nesta despensa elas ficavam guardadas e seriam recicladas e transformadas em coisas boas. Não morariam em nós eternamente, mas apenas pelo tempo necessário; aquele tempo estritamente necessário em que temos que aprender alguma coisa e onde ficam registadas as memórias suficientes para não nos colocarmos em situações idênticas mais vezes. Depois disto, a ferida e a mágoa seriam apagadas para não morarem mais em nós, para podermos regressar delas sem nunca mais voltar. E seríamos nós e inteiros uma e outra vez...

domingo, 30 de outubro de 2016

Haverá sempre uma linha que separa...

༺✿*ƸӜƷ *✿༻✶*✫¨`❤.,¸.• `•.¸☀.•´♥¸☀.•´♥Swing Dream .¸☀.•´♥•´¨`•. `••. '•Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ •´♥ ..•* ☀¨`*•.•´*.¸☀.•´♥ ┊ ┊┊ ┊☀┊ ┊ ┊┊ ☀ه ه┊ ☀ ┊ ┊ ི♥ྀ ☀ ┊┊ ☀ه ه┊Sisters by loretoidas 
http://www.flickr.com/photos/allthebeautifulthings/8638128944/

Haverá um código de ética implícito nas amizades? Um código que, não estando escrito, deve e merece ser cumprido? Eu creio que sim e, da minha parte, esse código é respeitado.
Para mim, alguém com quem uma amiga esteve envolvida é alguém que não me interessa estar em contacto, exceptuando se já havia uma amizade antes. Ora não havendo, nunca vou entender como é que de repente se iniciam contactos perfeitamente inocentes entre uma amiga e o ex de outra amiga. Será que é mesmo necessário? Há assim tanta coisa a dizer e a partilhar, sobretudo agora que essa pessoa deixa de estar na vida dessa nossa amiga?
Acho que  há limites tão bem definidos quando se trata de uma amizade! Há coisas e contextos onde não se mexe.  Mas também acho que cada vez mais há uma necessidade enorme de alimentar egos, das pessoas se sentirem na mó de cima, com o foco nelas, de sentirem que podem, que são importantes, mesmo que isso se faça à custa de outras coisas. Só com um enorme estado de carência eu consigo explicar situações destas que infelizmente vejo acontecer com mais frequência. Ou então sou eu, que penso mal...

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

O mundo não anda para a frente #2

O mundo não anda para a frente sempre que vejo mulheres bonitas e independentes a sustentarem monos em forma de pessoas, diminuindo-se ao ponto da invisibilidade e ainda assim não abandonarem o barco.

domingo, 9 de outubro de 2016

Depressão pós-livros

É oficial. Sofro de depressão pós livros.
Terminei hoje a tetralogia da Elena Ferrante e o vazio que sinto pelo término da leitura é desolador. Não consigo desligar o interruptor nem afastar da minha cabeça aquelas personagens tão bem construídas e delineadas, sem que me ocorra e agora? O que vai ser depois disto?
Acontece-me sempre com livros que gosto muito e cuja história consigo transportá-la para dentro de mim. Nem todos os livros bons me fazem sentir isto, mas estes definitivamente deixaram em mim uma marca inegável. Vou aguardar que o tempo passe e eu me esqueça um pouco da estória para poder ler de novo, numa altura nova e com um olhar diferente.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

A infelicidade tolerada


O despertador toca. Sempre às 7.30. Se a hora ainda não mudou, está de noite. Refila. De noite é tudo muito pior. Toma duche, penteia-se, olha-se ao espelho uma última vez, está apresentável, ninguém descofia, sai porta fora. O trabalho espera-a. O mesmo. Muda uma virgula, um apontamento, já faz aquilo mesmo que se esqueça. Aborrece-se. Ao menos tem um trabalho, pensa ela. 
Acaba de justificar as 8 horas de salário. Miseráveis, mas dá para o gasto. Pega no carro, conduz alheada até casa, põe a chave à porta. No caminho pensou no jantar. Fez planos de ir ao ginásio, lembrou-se que se calhar não ia ter tempo. Vou antes ler um livro para um jardim. Que livro? Há anos que não lia, esquecera-se de como soavam as palavras, de que livros gostava. Abandonou estas ideias - que disparate!
Entrou em casa, dedicou-se ao mesmo. Faz as almôndegas para o marido esfomeado. Hoje esmeraste-te! Obrigada! Responde ao elogio que, de tão raro, valeu-lhe por tudo. Limpa a cozinha, varre o chão, apaga a luz. Faz zapping, contesta a programação, nada a agrada. O que a agradara da última vez que se agradara?
Pega no telefone. Liga a alguém, Preciso de saber novidades, de conversar sobre coisas,  partilhar o dia-a-dia, confessar-me... Exorcizar-me... Sair desta gaiola.
O telefone do outro lado toca, atendem. Ela sorri! Uma voz amiga, familiar, intima... Que alivio, que prazer!
Abre a boca, começa a verbalizar. Detém-se. Foca-se no trabalho que dá muito trabalho, na rotina que é sempre a mesma, no casamento que é mesmo assim. Convence-se um pouco mais. Redime-se um pouco mais. Resigna-se um pouco mais. 
Ainda não foi desta que lhe descobriram a verdadeira infelicidade. Aquela que só para ela será suportável, porque é dela. Ainda não a viu espelhada nos olhos dos outros quando a olham. E assim, será sempre aquela que se conhece, que se sabe e que se tolera. Porque mais ninguém a viu...

quinta-feira, 29 de setembro de 2016



rain

Gosto de períodos de transição. Dos tempos entre as estações. Da incerteza do que está por vir, das possibilidades.
Gosto do sol baixo de setembro, dos dias mais curtos, da cor da cidade. De voltar a puxar um cobertor para mim, de me senti aquecida.
Gosto da esperança que renasce a cada dia mais curto, de que coisas boas poderão estar para vir. E eu espero que venham. E eu sei que vêm...

Chamam-me maluca, mas às vezes tenho bizarrias

Vou no carro a ouvir rádio. Passa a nova música do Enrique Iglesias (Se tu te vas, yo também me voy...lalalala, uma coisa assim) e assola-me sempre à cabeça a mesma cena hilariante e não me perguntem porquê, mas é só o que eu imagino e as coisas que nos sobem à cabeça é deixa-las subir.
Então, imagino sempre esta música a ser dançada por um conjunto de amigas divorciadas que, após alguns anos de casamento (estas casaram novas e portanto ainda são relativamente novas após o divórcio) descobriram a felicidade da solteirice. Elas é cabeleireiro, maquilhagem, saltos anos que guardaram debaixo  da cama, prontas para uma noitada de copos e danças latinas no Havana ou noutro qualquer do género. Elas é felicidade e corações com as mãos para as fotos de grupo, com a legenda do 'Agora eu vou ser feliz, graças a deus livrei-me daquilo'. Os saltos altos e a maquilhagem dão-lhes a força toda de saber que o mercado agora é todo delas, que é só escolher, que homens há muitos, mas elas só não investiam nisso porque eram casadas! É toda uma nova energia para o luto que aí vem, mas o céu é o limite e mais nada importa porque a vida começa é agora, depois dos 40, quando estão mesmo boas. 
Entretanto passa a música e elas dançam em circulo, abanando as ancas ao som do refrão, com um pé que se desloca para a frente e para trás, num misto de samba e rebola, mas cheias de fé. Os homens todos parecem super interessantes, os flirts depois de três gins são festas no ego - afinal continuo um espéctaculo - sacam mais meia dúzia de selfies para as redes sociais testemunharem como o divórcio lhes fez bem. Assim que o refrão repete, elas, em círculo cantam em coro (yo também me voyyyyyyyy) e rendem-se à profundidade desta música e desta sonoridade que lhes restituiu a felicidade efémera após divórcio. 
Chegam a casa. tiram a maquilhagem, descalçam os sapatos, consultam o telemóvel uma vez mais e não está lá nada. O luto vai fazer-se nos intervalos, mas elas ainda não sabem disso. É chamar de novo o Enrique à baila...

quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Dúvidas existenciais

No meu tempo, aquele em que proliferaram as Anas, Saras, Patrícias, Cátias e ainda os Joões, Ricardos e Pedros, nós sabíamos que uma Constança, Mariana (ou Maria Ana), Matilde ou Madalena, eram nomes acompanhados de três sobrenomes, cujos papás tratavam os progenitores por você, levando-os ao colégio privado, num carro de gabarito e despedindo-se com um beijinho.

Hoje não sei como se vão distinguir as Madalenas, Matildes e Bernardos desta vida, quando os agregamos aos Silva, Sousa ou Lopes. Onde residem uns e outros se não lhes acrescentarmos os apelidos?


quarta-feira, 14 de setembro de 2016

De como eu gosto dos meus ovos

Mesmo que vivesse 500 anos, não seriam suficientes para perceber a descaracterização que vejo em algumas pessoas quando, com o passar do tempo, se tornam iguais aos seus parceiros. 
São no fundo as Julia Roberts* da vida real, que gostam dos ovos por osmose dos gostos do parceiro. Mexidos, escalfados, estrelados ou cozidos, só se eles também gostarem. E sobretudo, porque eles gostam. 
Nunca entendi se esta assunção de gostos de dá realmente por osmose, por falta de memória, ou apenas porque é mais fácil concordar. Nunca entendi que alguém se perca de tal ordem (ou nunca se havia encontrado?) que não se lhe veja nenhum interesse por coisa alguma. Como se chega ao fim do dia sem saber se aquela música que gostamos é porque realmente gostamos ou porque nos habituamos a gostar? Se aquele hobbie que tanto prazer nos dava, nos passou a cansar ou deixou de fazer sentido porque ao outro também não fazia sentido?
No final do dia quem passámos a ser? Quem sempre  fomos? Quem deixámos para trás?


* (Noiva em Fuga)

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

De como os livros me salvam dos demónios

 
http://weheartit.com/entry/257579402


Este verão li compulsivamente. Entrei em cada um dos livros que li e acontece que quase me sinto numa meditação, sem o ser. 

A minha última aquisição é de uma escritora italiana, Elena Ferrante, que me assoberbou completamente para dentro de uma escrita despretensiosa e ainda assim tão real e tão simples. Nunca, em obra alguma revi tão densamente o poder e contornos de uma amizade que se concebe fora dos clichés. Do 'estarei para o que precisares', ' conta sempre comigo', 'gosto muito de ti'. Pelo contrário, faz-nos pensar nos lados mais sombrios e mais bonitos de que uma amizade é feita, para lá do encantamento das coisas boas de duas pessoas. Alicerça-se, antes de mais e para além de tudo, na admiração e competição de dois horizontes tão distantes entre si, que, sem se tocarem, não passam um sem o outro. 

Leio este livro e penso no sentido das minha amizades ao longo da vida. Felizmente soube escolher bem. Consigo conciliar nos meus amigos aquilo que me traz equilíbrio e paz todos os dias, sem esperar deles mais do que aquilo que cada um consegue dar. Lembro-me de ter lido uma vez, algures, que não podemos esperar todas as qualidades que apreciamos em todos os amigos. Acho que foi por isto que abandonei há muito tempo o conceito de melhor amigo. Aquele ser único. Consigo ver coisas boas em todos os meus amigos, mas não tudo aquilo que aprecio num único entre eles. E isso libertou-me de certa forma. 

Este livro trouxe-me isso à memória e à consideração. Enquanto penso nestas coisas, não penso noutras.




terça-feira, 30 de agosto de 2016

Mam'Zelle, este post é para ti


 Imagem de girl and sunset
http://data.whicdn.com/images/235166743/large.jpg


Recebi um mail estas férias. De uma leitora deste blog (a única, talvez), que me escreveu: três meses sem escrever nada. Não achas que é muito, não?

Sorri. Acenei com a cabeça como se ela me estivesse a ver e respondi que sim, que era. Que efetivamente não escrevia porque me tinha morrido a inspiração e porque a minha vida deixara de ter coisas giras para se escrever. E até as minhas opiniões, as milhentas coisas que me passam na cabeça quase deixam de ser 'escrevíveis'...

Hoje sentei-me e escrevi. Escrevo. Não sei bem sobre o quê. Perguntas-me o que penso quando me sento no sofá e olho para a vida que tenho. Honestamente e comparativamente só posso sentir gratidão: pelo que tenho, por quem tenho, por quem sou e por quem me permitem ser. Agradeço sempre.

E depois.... E depois penso se já me esgotei. Se é isto que posso esperar. Se terei alcançado aquilo que gostava realmente de ver em mim. Se a rotina instalada me vai abafar aos poucos. Se me vier a conformar com aquilo que me satisfaça minimamente. E tenho medo, muito medo. Já te disse o quanto tenho medo de ter uma vidinha? Um dia escrevo um post sobre o que é isto de ter uma vidinha.

Confesso que nestes últimos tempos tenho tido medo. Daquilo para que vou olhar daqui a uma década ou duas. Da pessoa que me posso vir a tornar. De tudo aquilo que ficou por dizer, por fazer, por concretizar e sobretudo por saber...

Depois faço uma pausa no zapping, levanto-me do sofá e volto à vidinha... a esta que tanto temo!


segunda-feira, 9 de maio de 2016

Me, my demons and I


Das piores armas que tenho comigo são os demónios que vivem dentro da minha cabeça e que acordam de vez em quando. Muitas vezes acordam quando eu estou a dormir e eu vejo-os nos meus sonhos. Outras vezes aparecem quando estou acordada e eu tento acalmá-los. 
O maior exercício a que me tenho proposto é sentá-los, mentalmente, todos à mesa comigo. Encetamos uma conversa corriqueira e amigável, em que eles vão perdendo a importância que têm e vão ficando pequeninos. É assim que tento domá-los. Já percebi que não posso aniquilá-los e portanto o melhor mesmo é viver com eles numa paz possível. Um dia sei que perderão toda a importância que têm, mas hoje ainda precisam de jantar...

segunda-feira, 2 de maio de 2016

O mundo não anda para a frente #1

O mundo não anda para a frente sempre que uma amiga tua te deixar pendurada para tentar a sorte, pela 3746º vez, com um gajo que não lhe liga nenhuma.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Voltar sempre... mas ir eternamente

O Janeiro passou e o Fevereiro também. Altura em que escrevi aqui o meu último post. Desde aí já completei mais um aniversário, já fui e voltei de África, já meti na cabeça que a vida não dá a volta sozinha e que as coisas por aqui são sempre cozidas em banho-maria o que significa que até ficarem completamente cozinhadas, tem que ser devagar, com tempo e muita paciência. 

Por partes.

Tivesse ou não a consciência de como seria 2016, uma das coisas que me propus foi viajar. Pelo menos uma das viagens teria que ser para longe. E foi. Comprei um bilhete de avião, mentalizei-me que teria que esperar 10 horas e  meia para lá chegar e fui ter com a minha amiga do coração a Moçambique. A cabeça veio comigo, mas eu não lhe dei muita importância. Poder estar longe de casa, pouco agarrada às tecnologias e agradecer cada hora do dia em que não temos wi fi foi a melhor terapia que consegui. 

Depois o calor e os bichos e as praias desertas e os caminhos de terra batida e a simplicidade de existir. Fiquei pequenina, que é o que se sente quando percebemos que existir é tão mais simples do que julgamos aqui. Ás vezes é preciso ficarmos pequeninos para voltarmos a ficar grandes e acho que viajar me proporciona isso. Voltei cheia. Cheia de vontade, cheia de saudades, cheia de ir, ir sempre. Voltei com 34 anos, mais velha, mais madura, mais certa e mais inconformada. E é por isto que sei que o caminho é para a frente!




quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

room


Ando desenfreada a arrumar coisas. Tão desenfreada que me faz confusão ver alguma coisa torta, ou mal arrumada. Um livro fora do sítio, roupa espalhada. Louça por lavar, ou cabelos no chão. Isto seria de uma pessoa normal que até sou, mas neste momento sinto que alguma coisa tem que estar arrumada na minha vida e faço-o desenfreadamente em minha casa.

Não consigo arrumar mais a minha vida e a minha cabeça e faz-me confusão este estado de coisas. Continuo a martelar na velha questão de saber se tomei decisões acertadas, se ter deixado uma relação medíocre me compensou de alguma coisa, se o facto de me sentir sozinha durará a vida toda...

Por causa disto, arrumo tudo o que possa. Consigo por momentos sentir que controlo alguma coisa.
 beautiful


Quero crer, neste segundo dia do mês de Fevereiro, que o Janeiro que passou foi apenas o estágio do que está para acontecer no resto de 2016. Andei a apregoar a toda a gente que este ano seria fantástico, Terminado o Janeiro, creio que foi só assim-assim. Começo a perder a veemência das coisas que andei a dizer.