quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Dos assuntos tabus

Não há, para mim, assunto menos democrático de discutir do que o da maternidade. Confesso que guardo a maior parte dos meus pensamentos e ficam a pairar dentro do balão, quando ouço as conversas. Primeiro, porque não sou mãe e portanto não sei o que é sentir as agruras da maternidade, depois porque me interessa muito pouco o modo como as pessoas, individualmente, conduzem a vida dos seres mais queridos. 

Agora, como socióloga de formação, permitam-me que possa observar o comportamento social da maternidade e opinar. Falando no geral torna-se menos complicado, porque como ninguém se sente particularizado, não se ofende e até concorda com parte das coisas. 

Ora, como ser observante destas novas gerações e tendo a perfeita noção que 'no meu tempo' as coisas eram um bocadinho diferentes, faz-me espécie este endeusamento das crias. Vejo nas redes sociais que os pais são todos reis e rainhas, porque as suas crias são todos príncipes e princesas. E os príncipes e princesas são uns anjinhos porque a eles lhes é proporcionado todo o conforto e bem-estar possível, para que nunca sintam a carência do que quer que seja. E não falo de carência emocional, obviamente, mas até esta é convenientemente confundida com a carência material. Porque se os meninos não têm, vão ficar tristes e a tristeza é uma emoção que deve ser negada ao máximo aos príncipes e princesas. 

O que acontece é que entretanto estes meninos crescem a não saberem ouvir um não. Crescem a achar que ficar triste  e frustrado é uma anormalidade, porque isto sempre foi combatido. Crescem a achar que já sabem tudo. Crescem e percebem que não são meninos nem da mamã, nem do papá, mas são meninos do mundo e como tal é a ele que têm que se dedicar. E quando digo dedicarem-se ao mundo, digo dedicarem-se aos outros, a si próprios, aos sonhos que têm, às possibilidades que criam. Mesmo que para isso tenham que cair e levantar-se e saberem aceitar que não há como ser de outro modo.

3 comentários:

  1. Eu sou mãe, sei o que é sentir as agruras da maternidade e concordo com o que dizes. Concordo, não por falares no geral e não me sentir particularizada, mas sim porque também não tenho pachorra para esse 'endeusamento' dos filhos que tanto se vê por aí.

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