sexta-feira, 9 de outubro de 2015

O que dói às aves

Darkness
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Com os meus amigos aprendi que o que dói às aves
Não é o serem atingidas, mas que,
Uma vez atingidas,
O caçador não repare na sua queda.
Alice Vieira 



Do mesmo modo, o que realmente lhe dói não foi o ter sido atingida, não foi o tiro que levou e que a fez dar uma queda. O que lhe doeu foi mesmo o tamanho da queda porque ela podia estar a voar baixo, que podia, mas ela voava bem alto. Quando foi atingida não se lembrou da queda, nem das reviravoltas no ar. Não se lembrou sequer do sítio onde caiu. Tinha caído. Há diferença do sítio onde se cai?

O que realmente lhe doeu é que levou um tiro, quando estava a voar tão alto, cheia de esperança que àquela altitude tudo fosse tão mais bonito e verdadeiro e esperançoso. E quando estava a gozar plenamente do seu voo, levou um tiro. E ainda assim, o que lhe doeu nem foi o tiro, foi o depois da queda. É que depois de um tiro tão certeiro, espera-se que o caçador venha buscar a presa (que ao menos tenha valido o sacrifício). Mas não. O caçador apontou para caçar uma nova ave. O que o motivava mesmo era saber que acertava. 
A nova ave voava perto do chão. Pareceu-lhe até que já a tinha visto. Decidiu acertar-lhe. A ave caiu-lhe no colo. Desta vez achou que valia a pena cuidar da sua caça. 

A outra ave, não se sabe dela, nem onde caiu, nem o tamanho do estrago na asa. Sabe-se apenas que sobreviveu.

Crê-se que voltará a voar...



 

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